quarta-feira, 15 de maio de 2013

SECA


Consumir água imprópria é única opção de famílias em zona rural na PB

Água é considerada imprópria, mas Governo diz que recupera poços.


Casas da zona rural de Olivedos nunca tiveram acesso a água encanada.



Cerca de 12 carros-pipa retiram água diariamente de poço artesiano em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)Cerca de 12 carros-pipa retiram água diariamente de poço artesiano em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Considerada um bem raro para os moradores da zona rural de Olivedos, no Curimataú paraibano, há quase trezentos anos a água continua sendo escassa na região. Estas famílias, que representam 47,6% dos quase quatro mil habitantes do município – povoado a partir de 1722 e emancipado em 1961 – nunca tiveram acesso a água encanada e convivem até hoje com a necessidade de carros-pipa e poços artesianos para abastecer suas casas com líquido considerado impróprio para consumo. Na falta destas opções, mesmo possuindo um rendimento mensal mediano per capita de apenas R$ 127,50, os agricultores precisam comprar água por até R$ 200.
Os dados são os mais recentes divulgados sobre os olivedenses, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010). De acordo com a gerência de execução de obras da Secretaria de Infraestrutura do estado, atualmente 170 municípios na Paraíba estão sendo atendidos com abastecimento de carros-pipa por decreto de situação emergencial. Também já foram recuperados 133 poços artesianos desde outubro do ano passado, somados a outros 353 que ainda passarão por reformas.
De acordo com o Governo da Estado, a zona urbana é abastecida pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), com fornecimento a 697 'ligações de água'. Conforme o IBGE, 93,4% das casas naquela zona rural têm saneamento básico considerado inadequado.
Um dos únicos poços artesianos que fornecem água aos agricultores na zona rural de Olivedos fica na fazenda Campos. Construído em 1992, diariamente chegam até 12 carros-pipa do exército e particulares retirando o líquido do poço em períodos de seca, segundo o proprietário Lídio Meira. A fazenda também possuiu durante muito tempo a única fonte de abastecimento da zona rural, com um açude que existe desde 1921.
Açude ainda serve para o abastecimento de pelo menos 18 famílias em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)Reservatório serve para o abastecimento de pelo
menos 18 famílias (Foto: Taiguara Rangel/G1)
“Esse açude é chamado de 'Milagre' porque, em épocas mais 'brabas', até Pocinhos e outras cidades ele já ajudou a abastecer sem nunca secar. Já resistiu a várias secas, até que houve a construção do poço. Continua vindo gente aqui direto pegar água para o gado e para casa, mas o poço é que está salvando a vida dos bichos e ajudando todos os moradores por aqui”, afirmou o administrador da fazenda, Inácio Marcelo, 58 anos.
Um estudo realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Ministério de Minas e Energia, identificou 44 poços artesianos no município, mas apenas 17 em funcionamento. A água de 91% dos pontos analisados foi considerada salobra, com média na quantidade de sólidos totais dissolvidos (STD) de 8.631,88 mg/L.
“Conforme a Portaria 1.469/Funasa, que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo humano, o valor máximo permitido para os sólidos dissolvidos é 1.000 mg/L. Teores elevados neste parâmetro indicam que a água tem sabor desagradável, podendo causar problemas digestivos, principalmente nas crianças, e danifica as redes de distribuição”, assinalam os pesquisadores.
Açude é uma das poucas opções para consumo doméstico e de animais em Olivedos (Foto: Taiguara Rangel/G1)Açude é uma das poucas opções para consumo
doméstico e de animais (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Para Fernandes Pereira, 22 anos, seus quatro irmãos e ainda os pais, o açude considerado 'milagre' é a única fonte de água existente. Ele considera a água boa para o consumo de toda a família, que subsiste majoritariamente do trabalho em uma olaria na região. “Serve para tudo aqui em casa. Acho que retiramos uns 200 litros por dia. É para banho, beber, lavar a casa e ainda dar para as galinhas”, disse. Outras 18 famílias na fazenda Campos também dependem do açude e ainda do poço para o acesso à água.
Porém, para aqueles a quem a operação carro-pipa atende de modo insuficiente, resta como única solução comprar água. O abastecimento particular de 6 a 8 mil litros custa de R$ 120 a R$ 200, segundo a merendeira Lúcia de Fátima, da escola municipal José Inocêncio, zona rural de Olivedos. Assim, o morador da zona rural acaba gastando mais do que o próprio sustento para comprar água. O rendimento mensal mediano per capita dos agricultores na zona rural de Olivedos é de apenas R$ 127,50, enquanto a média na Paraíba é de R$ 170, conforme o IBGE.
“Já moro aqui há mais de 20 anos e vi muita seca. Praticamente só tem dois poços com água suficiente para abastecer a população. Na cidade tem a água encanada de Boqueirão (açude Epitácio Pessoa) que só chega à noite, mas na zona rural o jeito é comprar água porque o carro-pipa do Exército não dá para o consumo do mês”, alegou.
Paraiba1

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