segunda-feira, 6 de maio de 2013

ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA O SEMIÁRIDO


Bode garante subsistência de criadores em Tejuçuoca


Iniciativa chega ao terceiro ano sendo uma referência de retomada da produção no semiárido

Tejuçuoca. Nem mesmo a seca que se abateu no Nordeste inibiu a iniciativa da caprinocultura nesta cidade. Ao contrário, o programa Bolsa Bode avança pelo terceiro ano propiciando renda e garantindo a subsistência de famílias de baixa renda.

O programa é considerado um sucesso de produção, configurando um espaço democrático para os gêneros. Mulheres e jovens participam da iniciativa desde a sua primeira fase FOTOS: ANTONIO CARLOS ALVES
Criado no dia 11 de janeiro de 2010, pelo ex-prefeito de Tejuçuoca, Edilardo Eufrásio, o programa Bolsa Bode é uma referência de convivência com o semi- árido na região do Nordeste. Localizado no Vale do Caru, o município tem uma área de 750,60km2, onde 90% desse território é usado para criação de caprinos e ovinos.

O rebanho de caprinos e ovinos em todo a região é de mais de 28 milhões de cabeças. Em Tujuçuoca, existem pelo menos quatro bodes, carneiros, cabras ou ovelhas para cada um dos 16.086 habitantes e nem mesmo a seca deste ano tirou o foco do projeto. Os 20 criadores da primeira etapa estão superando obstáculos e mantendo a criação de ovinos e caprinos.

Saída
"No momento em que o Brasil leva a sério o combate à fome, a caprinocultura é a grande saída para as regiões mais secas", afirma Edilardo, que ficou conhecido nacionalmente como "prefeito do bode". Na primeira etapa, foram investidos R$ 200 mil na Bolsa Bode.

A 155 quilômetros de Fortaleza, Tejuçuoca é a "capital nacional do bode". Até uma festa, que neste ano chega a sua 13ª edição, nos dias 26,27 e 28 de julho, é feita em homenagem ao animal. É o Tejubode, que reúne criadores do Nordeste, em evento agropecuário de três dias, que ultrapassa 120 mil pessoas. Ou seja, seis vezes mais que a população da cidade. O programa começou com a inclusão de 20 jovens da zona rural, com idade entre 18 e 29 anos matriculados no 8º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio.

Os selecionados receberam uma bolsa mensal no valor de R$ 100,00; dez matrizes todas prenhas e um reprodutor, além de contarem com toda assistência técnica necessária através da Secretaria de Desenvolvimento Rural para o empreendedorismo, com fins de produção de pequenos animais no semiárido. Também receberam uma capineira e aprisco com capacidade para 36 animais.

Os jovens não escondem o orgulho de fazer parte de um projeto que está servindo de referência para o Brasil inteiro. É o caso de Maria Edilene Barbosa da Silva, que antes de participar da Bolsa Bode ajudava sua mãe nos afazeres domésticos.

"O bode é nosso orgulho, e tem grande aceitação. Depois que entrei no projeto, tenho passado por uma experiência muito boa sobre o bode que tem venda garantida. A nossa grande dificuldade foi com água, mas agora tudo melhorou", diz Edilene, residente na localidade de Riacho das Pedras, a 10 quilômetros da sede. Pioneira no projeto, já tem em seu rebanho mais de 25 cabeças de caprinos.

Cisterna
Também criador, João Batista Amaro Magalhães tem uma cisterna de enxurrada com capacidade para 52 mil litros de água e já se encontra com 55% de sua capacidade, um aprisco de linha para abrigar 36 animais e uma capineira (plantio de capim) em dois hectares de terra. Foi assim que conseguiu vencer as dificuldades da falta de chuvas por dois anos consecutivos.

"A seca prejudicou muito o crescimento dos rebanhos, mas agora é arregaçar as mangas e começar tudo de novo. Cheguei a possuir 60 cabeças de ovelhas. A seca me fez vender mais de 30 e consumir algumas, mas as que ficaram já somam 11 matrizes e mais o reprodutor. Logo terei um rebanho igual ao anterior, porque as chuvas de abril ajudaram bastante", disse.

Inovações
"Mesmo sendo uma cidade de médio porte, Tejuçuoca se destaca pelas suas inovações. Neste ano, foram feitas cacimbas nos leitos dos rios, cisternas de enxurradas, poços artesianos e muitos esforços para manutenção do Bolsa Bode que, em 2013, terá a segunda turma pronta para receber os animais por ocasião do 13º Tejubode", diz o prefeito da cidade, Walber Bernardo.

Nelberto Coelho Almeida, da comunidade de Boa Ação, tem 30 animais e teve que devolver apenas uma fêmea para fortalecer o programa na segunda etapa. "Hoje sou meu próprio patrão", afirma com orgulho. Para o ex-secretário de Desenvolvimento Rural de Tejuçuoca, hoje vereador, Paulo César, a Bolsa Bode gerou um crescimento de mais de 70% no rebanho caprino e ovino da região.

"Para se ter uma ideia, os jovens apresentaram na feira de 2012, 380 animais frutos dos esforços de cada um", comemora Paulo César.

De acordo com a presidente da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos de Tejuçuoca e responsável pelo acompanhamento do programa, Carla Lima, todo o processo para atender a segunda turma está pronto. Na sua opinião, foi uma iniciativa de sucesso. Por isso, só há motivos para celebrar festivamente.

Diário do Nordeste

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