domingo, 19 de janeiro de 2014

CONFUSÃO NA "ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO"

Reforma ortográfica causa polêmica antes de se tornar oficial

Enquanto mudanças na ortografia derrubam acentos e confundem o sentido das palavras, antigas regras viram bloco de carnaval no Brasil

 São Paulo 

Alunos em escola pública de São Paulo./ A2 Fotografia/ Rafael Lasci
Nova proposta para a reforma ortográfica da língua portuguesa. Existem duas interpretações possíveis para essa frase. A primeira, sobre uma nova sugestão em andamento para a reforma ortográfica da língua portuguesa. A segunda, indicando que uma nova sugestão emperrou a reforma ortográfica, paralisando um processo que não anda com passos muito acelerados.
De acordo com a terceira reforma ortográfica da língua portuguesa, implementada no Brasil em 2009 (a primeira foi em 1943 e a segunda, em 1971), o acento agudo permanece nas palavras oxítonas como dói, mói, herói, pastéis e céu. A palavra “para”, que antes tinha uma acento que diferenciava a terceira pessoa do presente do indicativo - pára - da preposição - para - agora não é mais acentuada, criando um duplo sentido em algumas sentenças, como o título que leva esta reportagem. Porém, como as novas regras só passam a valer oficialmente a partir de 2016, as duas versões ainda são consideradas certas.
“A reforma ortográfica tem problemas técnicos, como por exemplo, ter se assumido a aceitação de duas grafias para palavras como ‘fato’, no Brasil, e ‘facto’ em Portugal”, diz o professor e linguista brasileiro José Luiz Fiorin, sobre o acordo assinado há cinco anos pelos países de língua portuguesa Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Para ele, o ideal seria que nos dois países se utilizasse uma mesma forma de escrita, ainda que a pronúncia fosse distinta. “Porém, descontados esses problemas, eu acho que o gesto político de reafirmação da unidade dos países de língua portuguesa era importante”, completa Fiorin.
Enquanto as novas regras não são obrigatórias, a seguinte frase poderia ser encontrada em uma manchete de jornal: "Por causa de queda de energia, máquina pára por pelo menos uma hora". O leitor tem todo o direito de interpretar que, em decorrência de uma queda de energia, uma máquina de implante de pelos parou por uma hora. Isso porque, além da palavra "para", a palavra pelo, que antes levava acento circunflexo para diferenciar o substantivo - pelo (cabelo, penugem), da contração de por + o - pelo, também já não leva mais acento nenhum.
Se a ausência do acento culminou em uma crise existencial das palavras, o que dizer do hífen, o eterno vilão do campo léxico? Pé-de-meia, por exemplo, aquele que todo mundo deveria fazer para economizar um dinheiro, leva hífen. Já o pé de moleque, o tradicional doce brasileiro, não leva nada além do amendoim e açúcar. Ao pé da letra, significa que não, essa palavra não leva hífen. Aliás, a razão pela qual hífen termina com N, contrariando a regra de que nenhuma palavra em português termina com N, apenas com M, também tem uma explicação. É uma palavra tardiamente incorporada pela língua portuguesa, por isso manteve suas raízes de origem, do grego hyphén.
Desde que dezenas de grafias foram mudadas, em 2009, a correria por dicionários e manuais das novas regras ortográficas não foi suficiente para sanar as dúvidas. E se não bastassem novas normas em uma língua que já não é muito fácil, um grupo de linguistas (palavra esta que perdeu o trema, recentemente...) pede que outras mudanças sejam feitas no acordo ortográfico. Liderado pelo professor Ernani Pimentel, as novas sugestões poderiam causar um novo atraso na validação das regras, que já deveriam ter sido colocadas como oficiais no final de 2012, mas o prazo acabou sendo prorrogado pela presidenta Dilma Rousseff para o dia 31 de dezembro de 2015.
O argumento do movimento “Acordar Melhor”, criado por Pimentel, é que a língua portuguesa deveria ser simplificada “para que todos a dominem e se libertem de dicionários e manuais”. Alguns senadores, entre eles Cristovam Buarque (PDT), Adelmir Santana (DEM), Flavio Arns (PSDB), apoiam a ideia que já conta com um grupo de trabalho no Senado para propor as simplificações da língua, coordenador pelo Pimentel.
A regra (não) é clara
Para entender o que pretende Pimentel, imagine a sentença: “Enxa o copo com axocolatado e aumente a xama da xaleira para o xá de mexerica”. Parece a letra de uma música da cantora Xuxa, uma fã léxica de palavras com X, em referência - ou referenda - à dupla de letras do seu próprio nome. Se dependesse de Pimentel, a regra da Xuxa poderia valer oficialmente para qualquer livro da literatura brasileira. Em sua visão, passar todas as palavras escritas com ch para a grafia com x facilitaria a leitura e diminuiria a confusão.

“Saudade” não é exclusividade da língua portuguesa

A palavra “saudade” não é particularidade da língua portuguesa, ao contrário do mito que existe desde o século XVI. Na forma ou no sentido, há correspondentes em outros idiomas.
Porque derivada do latim, variantes da palavra existem em outras línguas românicas. O espanhol tem soledad. O catalão soledat. O sentido, no entanto, não é o do português, está mais próximo da “nostalgia de casa”, a vontade de voltar ao lar.
A originalidade portuguesa foi a ampliação do termo a situações que não a solidão sentida pela falta do lar: "saudade" é a dor de uma ausência que temos prazer em sentir. Mas mesmo no campo semântico há correspondências. Por exemplo, no romeno, mas em outra palavra: dor (diz-se “durere”). É um sentimento que existe também em árabe, na expressão alistiyáqu 'ilal watani. O árabe pode, até, ter colaborado para a forma e o sentido do nosso “saudade”, tanto quanto o latim.
*Luiz Costa Pereira Junior é editor da revista Língua Portuguesa (editora Segmento)
Para o professor, essa ação em conjunto com outras mudanças de normas poderia até fazer com que o brasileiro tivesse que estudar menos para entender a gramática. A regra matemática de que menos com menos é mais, segundo o professor também vale para a gramática: Menos regras, menos horas de estudo, mais entendimento da norma. "A escola tem uma média de 400 horas aula de gramática no total, entre ensino fundamental e médio. Se a língua fosse mais simples, 150 horas seriam suficientes", diz ele.
Mas essa conta feita por Pimentel é alvo de severas críticas. "Ninguém sério nesse país propõe algo parecido", diz Fiorin. "Se você fizer uma mudança radical da ortografia, estará condenando um material histórico à obsolescência em uma geração", explica. O editor da revista Língua Portuguesa, Luiz Costa, concorda. “Já foram investidos muitos recursos numa mudança ortográfica nacional. Ainda que não seja perfeita, seria desperdiçar todo esse esforço”, diz Costa. De acordo com o Ministério da Educação, entre 2008 e 2012 foram gastos mais de 2,2 bilhões de reais para atualização de obras didáticas.
Enquanto as regras e contradições são discutidas e a nova norma não é obrigatória, as regras gramaticais viram alvo de brincadeira. Em Belo Horizonte, a capital do Estado de Minas Gerais, existe um bloco de carnaval chamado "Trema na Linguiça", brincando com a palavra que perdeu o trema, aquele acento que ia em cima da letra U para dar o som de "ui", e que agora só existe em nomes estrangeiros, como o da top model brasileira Gisele Bündchen. Até 2016, o trema ainda pode surgir nas palavras. Depois disso, só no carnaval.
El País

QUEM ATIRA COM A PÓLVORA ALHEIA...

Dinheiro público »
STF compra acessórios para bituca de cigarro por R$ 2,9 mil

Publicação: 19/01/2014 10:08 Atualização:

Compras curiosas com o dinheiro público (Contas Abertas)
Compras curiosas com o dinheiro público
Algumas compras recentes realizadas pela administração pública foram levantadas pela ONG Contas Abertas e, apesar de não apresentarem nenhuma ilegalidade, trazem à tona a discussão sobre de que forma vem sendo usado o dinheiro público. O Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, para atender as necessidades dos funcionários fumantes, que são cada vez menores segundo o estudo Nacional de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), comprará 10 bituqueira para depósito das pontas de cigarro, ao custo de R$ 2,9 mil. O material do acessório é aço inox ou alumínio polido.

Está empenhado também pelo STF mil kits de higiene com fio dental com cera da marca Higix por R$ 1,1 mil. Mil necessaires de plástico em formato retangular, com zíper metálico também serão distribuídas. Por elas, o tribunal pagará R$ 3,6 mil. Já na Secretaria de Administração da Presidência da República será renovado o estoque de fones de ouvido. Estão previstos a compra de 50 unidades ao custo de R$ 1,6 mil, sendo R$ 33,66 o valor de cada fone . 

A Câmara dos Deputados parece estar propondo alternativas ao inevitável café. O órgão comprará diversos tipos de chás, da marca Real por R$ 19,8 mil. O valor contempla o fornecimento da bebida no ano de 2014 e fornecimentos realizados em 2013. Para os que gostam de café com leite, a Câmara dos Deputados providenciou o contrato com a empresa CDV Comercial LTDA que fornecerá este ano leite em pó integral da marca Itambém ao custo de R$ 22 mil. Outro contrato de peso (R$ 141,5 mil) foi firmado com a empresa Daleth Veículo LTDA para locação de carros, sem motorista e sem combustível durante o período de um ano.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) renovará o estoque de poltronas e cadeiras. Entre as compras, duas cadeiras do tipo “presidente”da marca Marelli que custará cada uma R$ 4,9 mil. Outras poltronas e cadeiras no valor total de R$ 1,7 milhão também estão no carrinho do Tribunal. A Corte comprará 1.000 poltronas giratórias com espaldar alto e médios, de couro ecológico, e, 2.400 cadeiras baixas, metade com braço e outra metade sem. E para completar o carrinho, o Tribunal contratará a Positivo Informática para a compra de 838 computadores do tipo desktop, de modelo Master D570. Os eletrônicos sairão por R$ 1,7 milhões.

Diário de Pernambuco

DINHEIRO É O MAIOR ELEITOR

Transparência »
O peso do dinheiro nas disputas eleitoraisEm meio às discussões sobre financiamento público de campanha, estudo revela que o dinheiro é o maior eleitor

Andrea Cantarelli - Diario de Pernambuco


A velha máxima de que dinheiro não traz felicidade não pode ser usada pela maioria dos políticos pernambucanos quando o assunto é financiamento de campanha, salvo nos casos de alguns majoritários. A conclusão é do estudo Poder econômico e financiamento eleitoral no Brasil, divulgado recentemente pela ONG Transparência Brasil, para fundamentar a discussão em torno da proposta de financiamento público de campanha e do fim das doações de pessoas jurídicas, defendida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que protocolou ação no Supremo Tribunal Federal (STF). 

A conclusão da pesquisa não surpreende. Praticamente todos os candidatos eleitos no país ostentam alta arrecadação nas suas campanhas, provenientes de doações públicas e privadas. O diretor executivo da Transparência Brasil, Claudio Abramo, autor do estudo, afirma que “o grande eleitor no Brasil é o dinheiro”. A consulta mostra o custo do voto no país e a questão do financiamento eleitoral que está nas mãos dos que detêm maior poder aquisitivo.

O levantamento foi feito com base nos valores arrecadados pelos candidatos nas duas últimas eleições: 2010 e 2012. Apesar de, na extrema maioria dos casos, o valor unitário dos votos ter coincidido com a eleição dos candidatos, há exceções. Na eleição para prefeito do Recife, em 2012, apesar de o valor unitário do voto de Mendonça Filho (DEM) ter sido R$ 122,28, Geraldo Julio (PSB) foi eleito investindo R$ 19,01 por voto. 

A riqueza dos estados, segundo o levantamento, não tem relação direta com a maior proporção de gastos. Roraima foi onde o voto saiu mais caro na disputa pelo governo, em 2010: R$ 51,27, em média, por cada voto. Em Pernambuco, no ano em que o governador Eduardo Campos (PSB) foi reeleito, o custo médio foi R$ 7,16. “Os valores não deveriam superar o limite do PIB (Produto Interno Bruto) de cada estado”, frisou Abramo. 

O financiamento público de campanha chegou a ser discutido no ano passado, como proposta para ser incluído na minirreforma eleitoral que tramitava no Congresso. Mas não houve acordo entre os defensores da proposta. Os parlamentares do PT, por exemplo, eram a favor, enquanto os do PSDB defendiam o financiamento privado de campanha. A receita para evitar os abusos, segundo os dirigentes da legenda, era aumentar a fiscalização para evitar caixa 2. 

O estudo reforça os argumentos de entidades que se apresentam contra o financiamento privado das campanhas. A OAB entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar derrubar o financiamento privado de campanha. Segundo o presidente da seccional pernambucana da ordem, Pedro Henrique Reynaldo Alves, não existe espaço para empresas continuarem dando as cartas na política do país. 

“A OAB acredita que o cidadão brasileiro é o ator principal do regime democrático, cujo propósito é a cidadania. O objetivo primordial de uma empresa é o lucro, não a cidadania”, observou Alves, frisando que esta ação será um divisor de águas no sistema eleitoral. “Com a ajuda da Justiça Eleitoral, a regulamentação deve ser rígida, limitar valores, proibir financiamento privado e policiar o caixa dois. Esse jogo mais justo vai atrair pessoas que tenham realmente vocação, em troca deste jogo perverso onde o grande senhor é o dinheiro”, completou.

Diário de Pernambuco

ABUSO DE DIREITO?

'Rolezinhos' e a teoria do abuso de direito

Confesso que sou um apaixonado por códigos. Por essas tábulas que ambicionam regular eternamente a vida em sociedade. Quase não deixando lacunas ao seu intérprete. E o Código Civil Brasileiro, de 2002, é desses diplomas codificados um sedutor para não dizer majestoso, ao longo de seus 2.046 artigos.
Pois bem. Espalham-se pelo país os chamados rolezinhos, que consistiriam na grande concentração proposital de centenas ou milhares de jovens dentro de Shopping Centers, organizada através das redes sociais. Seria uma sobreposição dos direitos de ir e vir e de reunião, dentro de determinado estabelecimento privado.
Acontece que nenhum direito é absoluto. Qualquer exercício de direito deve ser sopesado frente aos demais. Ainda, nosso sábio e magnífico Código Civil, sob inspiração do notável jurista paulista Miguel Reale, adverte ao cidadão: “Artigo 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa- ou pelos bons costumes”.
O mestre civilista Sílvio Venosa esclarece, com muita propriedade e sinceridade, que no abuso de direito sob a máscara de ato legítimo esconde-se uma ilegalidade. Trata-se de ato jurídico aparentemente lícito, mas que, levado a efeito sem a devida regularidade, ocasiona resultado tido como ilícito (Direito civil, 2003, pág. 604).
Após um Fla-Flu, 20 mil torcedores organizados de determinado time vencedor não podem, mediante prévio acordo, querer entrar nas dependências de uma churrascaria que comportaria no máximo algumas dezenas de pessoas. Assim como um locador não poderá ingressar no imóvel locado durante a madrugada, perturbando o repouso de seu inquilino e da família deste, sob o pretexto de vistoriar e verificar rotineiramente o estado de conservação do imóvel. Em ambos os casos presente estaria a figura do abuso de direito do Código Civil.
Sem nenhuma dvida, encontros de centenas ou milhares de pessoas, combinados previamente nas redes sociais, comprometendo a segurança e lazer de demais usuários de Shopping Centers e sua própria estrutura, configuraria o abuso de direito, uma vez que excederia manifestamente os limites impostos pelo fim social do exercício do direito, que deveria consistir na faculdade de se entreter, passear ou realizar compras sem acarretar qualquer dano ao direito de outrem dentro do estabelecimento comercial.
Certamente, mães com carrinhos de bebês ou gestantes, idosos, portadores de necessidades especiais e todos os outros demais frequentadores do Shopping não haveriam como atravessar uma massa de milhares de jovens que resolvessem se concentrar em frente ao toalete ou de determinado fast food preferido por muitos frequentadores. Independentemente da mansidão e pacificidade dessa multidão previamente ajustada.
* Carlos Eduardo Rios do Amaral é defensor público do estado do Espírito Santo.
Jornal do Brasil

SEGURADO SEM DINHEIRO!

Segurado do INSS que não renovar senha pode ficar sem receber

Agência Brasil
Os segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) devem procurar a agência bancária onde recebem o benefício para comprovar que estão vivos e renovar senha. Quem não fizer, terá o benefício bloqueado pela Previdência Social.
Os bancos têm até o dia 28 de fevereiro de 2014 para finalizar o processo de comprovação de vida e renovação de senha dos beneficiários que recebem por meio de conta-corrente, poupança ou cartão magnético.
Em agosto, o INSS prorrogou o prazo, pois, dos 30,7 milhões de beneficiários, 9,4 milhões ainda não tinham atendido à convocação para renovar a senha. O número caiu, porém 4,7 milhões ainda precisam fazer a renovação nas próximas semanas.
As mudanças estão sendo implementadas pelas instituições financeiras pagadoras de benefícios desde maio de 2012. Segundo o INSS, ao ser convocado, o beneficiário deve ir até a agência bancária levando um documento de identificação oficial com foto e de fé pública (carteira de identidade, Carteira de Trabalho, carteira de habilitação).
Caso esteja impedido de ir à agência bancária, o segurado pode fazer a prova de vida por procuração, desde que o procurador seja devidamente cadastrado no INSS. Os segurados que residem no exterior também podem apresentar a comprovação por meio de um procurador cadastrado no INSS ou documento emitido por consulado, informou o instituto. As dúvidas, segundo o INSS, podem ser esclarecidas pelo telefone 135.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) lembra que a prova de vida tem o objetivo de combatet fraudes e inconsistências no pagamento de benefícios. A federação garante que os bancos investiram para que o processo transcorra de forma organizada, sem causar transtornos à população, e as instituições que dispõem de tecnologia para fazer a identificação biométrica poderão utilizá-la.
 Jornal do Brasil

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

"ROLEZINHO" E "ROLEZÃO": QUE [...] É ISSO?

Shoppings de SP fecham mais cedo com medo de 'rolezão' de sem-teto

Dois shoppings da zona sul de São Paulo fecharam as portas mais cedo nesta quinta-feira com medo dos “rolezões” marcados pelo Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST). Os shoppings Campo Limpo e Jardim Sul encerraram o expediente por volta das 18h, quando os manifestantes começaram a se aproximar dos estabelecimentos.
No Jardim Sul, cerca de 500 pessoas ligadas aos sem-teto saíram da estação Giovanni Gronchi da CPTM por volta das 18h e seguiam em passeata pela avenida de mesmo nome até o shopping. Entre a estação e o estabelecimento comercial, há cerca de um quilômetro de distância.
Shopping Jardim Sul fecha mais cedo com medo do "rolezão popular" organizado pelo MTST
Shopping Jardim Sul fecha mais cedo com medo do "rolezão popular" organizado pelo MTST
A direção do shopping, que fecha às 22h, informou que decidiu encerrar as atividades mais cedo por medida de segurança. O estabelecimento colocou seguranças particulares nos acessos ao shopping.
A Polícia Militar monitorou à distância a manifestação. Duas ocupações do MTST participam do “rolezão” próximo ao Jardim Sul: a Faixa de Gaza, localizada em Paraisópolis, e a Capadócia, localizada no Campo Limpo, ambas na zona sul.
No Campo Limpo, outro grupo ligado ao MTST também se concentrou nas proximidades do shopping de mesmo nome. Os manifestantes saíram da estação Campo Limpo da CPTM e caminharam até o estabelecimento comercial, que também fechou as portas.
Em sua página no Facebook, o MTST informa que os “rolezões” são contra o “apartheid”. “Shopping fascista vai ter que fechar!”, disse a organização em uma das postagens.
Jornal do Brasil

AGORA É UM TAL DE "ROLEZINHO"

A rebelião dos excluídos

Quatro intelectuais discutem a natureza dos rolezinhos, analisam a resposta do Estado e da sociedade e até onde o movimento pode chegar

Policiais abordam jovens no shopping Metrô Itaquera. / ROBSON VENTURA/FOLHAPRESSr
Depois da série de protestos sociais iniciada em junho do ano passado, um novo fenômeno social começa a se desenhar no Brasil. Osrolezinhos começaram a ganhar a atenção quando no último 7 de dezembro cerca de 6.000 jovens se reuniram por meio das redes sociais no shopping Metrô Itaquera, na zona leste de São Paulo, uma das regiões mais pobres da cidade.
O grupo, maioria de pretos e pardos, compareceu ao centro de consumo que se auto-define como um “empreendimento alvo da nova classe média”, vestindo seus bonés e bermudas e ouvindo seus funks. Desde aquele dia, ao menos mais quatro rolezinhos, identificados pela polícia como tumultos, repetiram-se em diferentes shoppings da Grande São Paulo com casos de roubo isolados. Em todos, causaram pânico entre lojistas e compradores.
O Brasil coleciona histórias de discriminação em seus centros de consumo. No último mês de dezembro, um músico cubano negro ganhou uma indenização de 6.700 reais porque a Justiça considerou que ele foi vítima de preconceito ao ser abordado e levado para uma sala por seguranças no Shopping Cidade Jardim, o mais luxuoso da cidade, onde ele faria um show. Em 2000, um grupo de moradores de uma favela do Rio chegou de ônibus a um shopping da zona sul para mostrar à mídia que eram recebidos pelos lojistas e seguranças com preconceito e “cara de nojo”.
Mas no último final de semana, o fenômeno transpassou a fronteira da periferia. A decisão da Justiça de proibir os rolezinhos e ameaçar seus praticantes com multa de 10.000 reais, além da repressão policial vista em um novo encontro de cerca de 1.000 jovens no shopping Metrô Itaquera, mobilizou pelas redes sociais um setor da classe média do país todo refratário à violência policial. Os mesmos que foram reprimidos com balas de borracha e gás de pimenta nos protestos de junho. Agora, novos dez rolezinhos estão marcados para as próximas semanas em apoio aos jovens da periferia, entre eles um no JK Iguatemi, um dos mais caros de São Paulo que, com a liminar colada nas suas portas automáticas, barrou até seus próprios funcionários no último sábado.
O EL PAÍS ouviu quatro intelectuais que refletiram sobre o fenômeno e discutiram sua natureza, analisaram a resposta do Estado e da sociedade a ele e apontaram seu possível rumo.
PAULO LINS (escritor, autor de Cidade de Deus)
"Não vejo nada espontâneo neste fenômeno"
rolezinho é uma forma de trazer à tona o fato de que o Brasil é um país racista e demonstra que é uma manifestação extremamente política e organizada. Não vejo nada espontâneo neste fenômeno. Acho que o debate público na periferia do Brasil está muito grande. Desde os anos 90, a música, a literatura, a poesia, o rap são muito políticos e esses jovens se ligam assim na política, ouvem as pessoas falarem, debaterem. Eu mesmo já organizei vários debates com crianças nas favelas. Os políticos não estão percebendo que a periferia está mudando, que não aceita mais os desmandos políticos. Hoje você conversa com um jovem de 15 anos da periferia e ele sabe tudo o que está acontecendo, apresenta as mesmas ideias que um jovem do centro da cidade.
A resposta das autoridades diante do rolezinho não é novidade, sempre foi assim. Se entrarem cinco negros num shopping a segurança vai ficar olhando, vai ir atrás. A polícia brasileira é a que mais mata jovens negros. Todo mundo sabe disso. O Brasil é um país racista, como a maioria dos países na Europa, como os Estados Unidos. Isso acontece no mundo todo e os jovens de periferia estão cansados de ver isso. Uma menina de 15 anos que morava no morro recebeu 1.000 reais de presente de aniversário do pai para comprar um vestido. Ela era barrada nas lojas de grife, não conseguiu comprá-lo. Tenho uma amiga francesa mulata, que chegava nas boutiques de Ipanema e o pessoal queria botar ela para fora, até que ouviam o sotaque.
Mas o problema não é as pessoas serem racistas, é as instituições serem racistas. Não posso mudar o racismo pessoal, agora, quando é o Estado que é racista temos um problema. Essa forma de racismo é a que causa a violência. Uma classe média inteligente vai entender que essa forma como tratam a essas crianças nos shoppings é um dos principais motivos que causam violência.
A classe média tem que abraçar essa causa para viver num pais melhor. Roubo e arrastão sempre houve em qualquer situação. O importante é que as pessoas que não fazem isso estão lá também. O mais importante para nós, para imprensa, deveria ser o fato político.
RUDÁ RICCI (doutor em ciências sociais e autor de "Nas Ruas", sobre os protestos de junho)
"Quem está politizando esta brincadeira infantil é a PM"
Os rolezinhos nascem de dois sentimentos que se cruzam. O primeiro, fruto da inclusão pelo consumo provocado pelo lulismo. Não houve inclusão social pela luta pelos direitos (motivada por mobilizações e protestos sociais que, vitoriosos, gerariam identidade social e política) ou pela política (fruto de engajamento sindical ou partidário).
A inclusão pelo consumo disseminou que prestígio social se vincula a bens adquiridos, se possível, top de linha. O segundo sentimento é o ressentimento, fruto da condição social dos moradores da periferia. Não está diretamente vinculado ao padrão de consumo (vários deles possuem casas com TV tela plana, celulares e tênis de última geração), mas ao descaso dos governantes (não possuem áreas ou programas culturais ou de lazer e são tratados com violência pela polícia) e, principalmente, pela discriminação das classes médias tradicionais.
Por este motivo andam em multidão (mais de 1.000 jovens nosrolezinhos), porque sabem que em pequenos grupos sofrerão discriminação. Em grupos maiores, tomam o espaço que não os acolhe com muito ânimo. A partir daí, trata-se de uma ação infantil, nem mesmo adolescente: correm, "barbarizam" com gritos, uma ação primária de demarcação de espaço e uma denúncia velada da discriminação (afinal, ao barbarizarem estão reforçando o que os que discriminam já explicitam com olhares de recriminação). Não há qualquer sinal de confronto de classe. O sinal é de agressividade, mas não violência (os freudianos sustentam que agressividade é sinal de defesa e normalidade, violência é patologia). Mas aí, entram os políticos e polícia militar para politizar esta situação. Os políticos se preocupam com a reação da classe média, que ainda acreditam que sejam formadores de opinião eleitoral (o que não é fato no Brasil, desde 2006, segundo demonstram vários estudos sobre processo eleitoral).
Acionam a PM que não possui cultura de respeito à diferença social. Avaliam qualquer situação fora do padrão de normalidade imposto por estas áreas de consumo sofisticado como perturbação da ordem. E atacam, como qualquer treinamento militar. Atacam o inimigo em potencial. Aí, podem estar politizando algo que é uma reação infantil.
De fato, os rolezinhos geram quebra de domínio de território por uma classe ou um comportamento específico de classe. Mas não é mais que uma reação infantil, de quem se sente discriminado e quer estar lá e ter prestígio ou reconhecimento que, como já ressaltei, em nosso país significa bens de alto consumo. Em uma palavra: quem está politizando esta brincadeira infantil é a PM. Algo similar ao que já fez em junho do ano passado. E vimos em que desaguou.
ALBA ZALUAR ( professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ)
"Acredito que seja uma brincadeira, não um movimento social"
rolezinho é um fenômeno, a discussão agora é se é um movimento. Acredito que seja uma brincadeira, não um movimento social. Esses jovens precisam de diversão e estão buscando uma forma de diversão. O que precisa ser analisado é se a presença deles no shopping é prejudicial. Eu, se estivesse em um shopping, e encontrasse um grupo de pessoas de qualquer classe social gritando, fazendo arruaça, ficaria assustada. Eles deveriam ir ao parque, por que não vão ao Ibirapuera? Um shopping é um centro de consumo. Pode até ser que, no fundo, essa garotada queira prejudicar quem quer consumir nesses shoppings e aí já não é uma brincadeira e, sim, uma forma de agressão às pessoas das quais elas sentem aversão ou inveja. Nesse contexto, poderíamos falar de uma luta de classes, mas uma luta de classes sem muito propósito. O que se tem é que estimular que eles se desenvolvam, façam coisas criativas, para que saiam da pobreza.
Acho que está havendo um exagero, inclusive por parte dos que querem proibir. E o fenômeno está ganhando um novo significado. E isso é o que eu temia, que as coisas voltassem ao que foi no ano passado, que se torne algo contra a polícia, nessa perspectiva das pessoas que são contra o sistema e que a polícia é repressiva e violenta. A polícia brasileira é, sim, muito violenta. Mas não acho que é essa a forma de resolver a questão.
ROSANA PINHEIRO MACHADO (professora de antropologia na Universidade de Oxford)
"De racismo cordial e velado não temos nada"
rolezinho é um evento de jovens da periferia que se reúnem para passear nos shoppings das cidades, cantar funk e se divertir. Em grupo, os jovens da periferia sempre foram aos shoppings. Não é um processo novo, a não ser em sua dimensão e intencionalidade. Mas o rolezinho hoje é muito mais do que isso: é um dos mais importantes fenômenos da sociedade brasileira, não pelo evento em si, mas pelo seu poder de reação, entre amor e ódio. Poucas vezes tivemos um momento tão especial para pensar o Brasil como agora por tudo que isso traz à tona.
É muito difícil dizer se são protestos conscientes. De alguma forma todos são. Há uma reinvindicação clara de ocupar espaços urbanos privilegiados, de marcar presença. É um basta na invisibilidade. Toda a marcha, em maior ou menor medida, é uma reivindicação ao “direito à cidade”, como diria o filósofo francês Henri Lefebvre.
É um evento político consciente que tem relação com outras práticas da periferia, como as pichações, que tem por objetivo marcar os espaços e transmitir uma mensagem. Mas o grau da intencionalidade é impossível definir: ele varia de grupo para grupo, de cidade para a cidade.
 O resultado político do rolezinho, no entanto, é muito interessante, seja pelo ponto de vista de como ele reflete a sociedade brasileira, seja como esse reflexo volta para os grupos, que se vão dando conta do tremendo papel político que desempenham. É evento vinculado ao culto ao consumo de ostentação. Nesse sentido, é importante evitar romantizações de que se trata de um evento de luta de classes de esquerda. Por outro lado, o resultado disso se assemelha a um processo muito semelhante, em que as camadas populares descem o morro e tomam conta de espaços que lhes foram negados. Ai então a sociedade reage, com raiva e rancor. A periferia sente na pele a exclusão, sente que não é benvinda e assim vai tomando cada vez mais conta de seu papel político.
A programação desses jovens não é nada novo também. Pelo Orkut ou pelo Facebook, jovens da periferia sempre se reuniram para passear, como acontecia no caso dos “bondes” que, pelo Orkut, se encontravam nos shoppings e nas praças. Eles se reúnem porque isso faz parte dos processos de pertencimento peculiares à cultura juvenil de grupos urbanos.
Se levarmos em consideração que o rolezinho é um processo e não algo novo, fica difícil perceber relação direta com os eventos do ano passado. No entanto, é claro que essa atmosfera de um Brasil injusto, que não pode mais se calar, acaba afetando e dando uma nova dimensão ao fenômeno. Ele vem a calhar em um momento em que a sociedade brasileira está se dividindo. De um lado, uma parte da população tem se revelado preconceituosa, racial e socialmente, e vem a pedir maior repressão (infelizmente essa massa vem de todas as classes sociais). Isso não é novo. Apenas isso está ficando evidente para mostrar ao mundo que de racismo cordial e velado não temos nada: temos um sistema cruel e perverso. De outro lado, onde eu acredito que está a grande maioria da população, tem uma parte esperançosa, cansada e sedenta por democracia. Essa parte é a mesma que apanhou da polícia em junho de 2013, que defende as populações indígenas, que é contra as remoções forçadas da Copa e que, finalmente, entende que os jovens da periferia tem o direito de ir e vir.
El País

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

MAIS IMPOSTOS!

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Tributos aumentam valor pago pelos remédios no Brasil em até 34%



O peso de tributos como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), PIS e Cofins chega a elevar o preço dos medicamentos pago pelo consumidor brasileiro em 34%. A conta da farmácia é apontada pela indústria e também pelo varejo como fatores importantes para que a população não cumpra à risca a receita do médico, o que provoca complicações de saúde e elevam os gastos públicos e privados, com internações e tratamento de doenças simples que se tornam graves. O Brasil é um dos campeões mundiais na taxação dos remédios e a distância se torna astronômica especialmente quando comparado a países como Estados Unidos, Canadá e México, onde a carga tributária é zerada. Somente no ano passado a arrecadação com a fabricação e venda de medicamentos atingiu R$ 15 bilhões, superior aos gastos do governo com remédios, próximos a R$ 10 bilhões em 2013.


Representado pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), o setor lançou no ano passado a campanha Sem Imposto no Remédio, recolhendo assinaturas em todo o país. O resultado do abaixo-assinado será enviado ao congresso nacional nas próximas semanas. A expectativa é que ainda este ano todos os remédios de uso cotidiano e também novas drogas para tratamento de doenças, como câncer e Alzheimer, possam ter o seu preço reduzido. “Mais de 1 mil medicamentos no país já poderiam estar isentos do ICMS, ocorre que desde 2007 não temos atualização da lista de isenção. Juntos o ICMS e o PIS/Cofins correspondem aos tributos de maior peso na composição do preço brasileiro”, aponta Pedro Bernardo, presidente da Interfarma.

Somente no ano passado a rede de drogarias Araujo, que lidera a arrecadação de ICMS no setor de drogarias em Minas Gerais, pagou em tributos o equivalente a R$ 140 milhões. O presidente da rede, Modesto Araujo Neto, defende a inclusão dos medicamentos na cesta básica do brasileiro, e garante que com a redução dos tributos a conta para o consumidor pode cair acima de 30%, motivando o consumo e economizando gastos com internações. “Assim como os alimentos, os medicamentos são primordiais para a população.” Araujo aponta ainda que em Minas Gerais existe uma reivindicação antiga do setor de alinhamento da alíquota do ICMS para todos os produtos. Isto porque os medicamentos genéricos já foram beneficiados com a redução da alíquota do imposto de 18% para 12%, mas todos os outros fora dessa categoria continuam arcando com a tributação de 18%. Modesto Araújo lembra ainda que a conta cresce para o consumidor mas também para o governo quando compra medicamentos de distribuição gratuita e também é taxado com o ICMS.

Estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) para o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma) demonstrou que em média o ICMS brasileiro para medicamentos é de 18%. Pesquisando o estado do Paraná, que reduziu sua alíquota para 12%, o estudo demonstrou que houve crescimento da arrecadação em 2012, ano em que a pesquisa foi elaborada. Uma das variáveis para a conta positiva foi o aumento do consumo.

FILANTROPIA - Levantamento do setor filantrópico em suas unidades assistenciais demonstra que o impacto da carga tributária tem peso relevante não só na venda direta de medicamentos ao consumidor mas também na assistência hospitalar.

No ano passado o segmento pagou R$ 1,5 bilhão em tributos. “Esse valor seria suficiente para abrir 5 mil novos leitos de CTI ou ainda realizar 1,2 milhão de partos ou 1,5 milhão de cirurgias”, compara Gonçalo Barbosa, superintendente de Planejamento de Finanças e Recursos Humanos do Grupo Santa Casa. Ele cita ainda que a carga tributária encarece os medicamentos fabricados no Brasil, assim como os equipamentos, favorecendo as importações, uma vez que hospitais públicos e filantrópicos têm isenção de impostos quando compram de outros países. “Cerca de 80% dos equipamentos mais caros de alta tecnologia, são importados.” Para o executivo, a alta carga tributária estimula a importação.

Fonte: Diário de Pernambuco

SALÁRIO MÍNIMO DEVERIA SER R$ 2.765,00...

Salário mínimo deveria ser de R$ 2.765 para pagar cesta básica, diz Dieese

Preço dos alimentos também subiu em 2013, encarecendo a cesta

A Pesquisa Nacional da Cesta Básica registrou em 2013 um aumento em todas as 18 capitais em que o estudo acontece, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com isso, o departamento calculou quanto deveria ser o salário mínimo no país com base na cesta básica de Porto Alegre, que registrou o maior aumento em dezembro, custando R$ 329,18. Pela lei, o salário mínimo deve ser capaz de suprir a despesa do trabalhador e sua família. Com isso, o Dieese mostrou que o menor salário pago deveria ser de R$ 2.765,44, quase quatro vezes maior do que o que está em vigência atualmente, de R$ 724,00.
Em nove dos locais da pesquisa, o crescimento do valor da cesta básica foi acima de 10%. As maiores elevações aconteceram em Salvador, com 16,74%, Natal, com 14,07% e Campo Grande, que registrou aumento de 12,38%. Já os menores crescimentos ocorreram em Goiânia e Brasília que ficaram, respectivamente, com 4,37% e 4,99%.
Tabela mostra o custo da cesta básica e a jornada de trabalho necessária para pagá-la
Tabela mostra o custo da cesta básica e a jornada de trabalho necessária para pagá-la
A jornada de trabalho necessária para se pagar os alimentos essenciais de um trabalhador que receba o salário mínimo deveria ser de 94 horas e 47 minutos, pelo resultado das médias das capitais brasileiras em dezembro de 2013.
O único produto da cesta que registrou diminuição de preço em todos os locais pesquisados foi o óleo de soja, com queda de 27,10% em Curitiba e 13,66% em Natal.
Já o leite, a farinha de trigo, a banana, o pão francês e a batata aumentaram seus preços em todos os locais do estudo. A maior alta do leite aconteceu em Belém, registrando 28,24% e a farinha em Florianópolis, com 67,06%. O pão francês e a batata aumentaram respectivamente, em 24,17% em Campo Grande e 45,60% em Porto Alegre, enquanto o maior aumento da banana foi de 73,89% em Natal.
Fonte: Jornal do Brasil

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O FUTURO DO BRASIL

Os filhos da classe C mudarão a cara do Brasil

55% dos jovens brasileiros são filhos da internet, menos conservadores e menos religiosos que seus pais. Também representam uma força eleitoral decisiva

     
Manifestantes durante protesto em Brasília, em junho de 2013. / EVARISTO SÁ (AFP)
A classe C é hoje protagonista na sociedade brasileira. São 40 milhões que, saídos da pobreza, constituíram um estrato que está influenciando na própria identidade do país. Os filhos dessas famílias constituídas pelos trabalhadores de mais baixo nível profissional, em sua maioria analfabetos ou quase, são uma novidade tão importante que, segundo Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, podem chegar a “mudar a cara do Brasil”.
Ao contrário de seus pais, que não estudaram, estes jovens já frequentam a escola e sabem mais do que eles. Querem, além disso, continuar sua formação para poder dar um salto social. Serão adultos muito diferentes de seus progenitores, segundo o perfil deles apresentado no estudo Geração C, feito pelo Data Popular com 23 milhões de jovens entre 18 e 30 anos e salários de até 1.020 reais por mês, o que abrange 55% dos brasileiros dessa idade.
Esses jovens são os novos formadores de opinião dentro de suas famílias: estão muito mais informados do que seus pais, são menos conservadores do que eles (sobretudo em questões sexuais e religiosas) e começam a ter uma grande força eleitoral.
De fato, são os setores políticos e religiosos os que estão mais preocupados e interessados em saber por onde se movem esses milhões de jovens que dentro de uns anos serão fundamentais para determinar os rumos do país.
Uma pequena mostra da inquietude desses jovens -- que contrasta com certa resignação atávica de seus pais, que se entregavam passivamente às mãos do Estado benfeitor – foi sua atitude nos protestos de junho passado. Muitos desses jovens que cunharam slogans criativos e subversivos provinham da periferia das grandes cidades e são filhos dessa classe C que já exigem mais do que os pais. São também os filhos da internet, da comunicação global e têm ideias próprias sobre a política e a sociedade.
Em alguns casos são eles que estão ajudando seus pais (sobretudo as mães, com pouco ou nenhum estudo) a usar o computador para que possam ter uma conta no Facebook ou enviar e-mails aos amigos.
Um fenômeno novo é que os pais desses jovens, com um salário melhor do que tinham quando viviam na pobreza, estão muitas vezes se sacrificando para que a filha, por exemplo, faça um curso de alguma coisa e “não tenha que limpar casas a vida toda”, ou para que o filho não precise ser “peão de obra” como seu pai, e sim técnico de internet e, se possível, médico ou advogado. De fato, muitos dos filhos já estão ganhando mais do que seus pais como empregados no mundo do comércio, na administração de empresas ou empreendendo seu pequeno negócio, como um salão de cabeleireiro ou uma pequena loja.
Esses jovens logo serão maioria no Brasil, e a eles terão de prestar contas o mundo político, o econômico e até o religioso. Segundo muitos estudos em andamento, esses jovens já pensam de forma diferente dos seus pais, são mais críticos com o poder e mais exigentes com as ações do governo. No campo religioso, eles também representam uma grande interrogação que começa a preocupar as diferentes religiões, sobretudo a Igreja Católica e as evangélicas. Segundo André Singer, um dos analistas mais agudos da sociedade brasileira, os pais dessa classe C pertenciam em 90% às igrejas evangélicas nas quais hoje se encontra fundamentalmente o universo mais pobre do país, enquanto a Igreja Católica tem maior influência entre as classes mais cultas e com renda maior.
No que crerão esses jovens? Essa é uma das incógnitas, objeto de estudo e preocupação do mundo religioso. Houve 35.000 respostas diferentes à pergunta feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
O que começa a parecer, de momento, é que muitos deles já estão desertando das igrejas evangélicas, cujos ensinamentos consideram conservadores demais. Em alguns casos, convenceram também os pais a deixar de frequentarem ditos templos.
Os católicos se beneficiarão desse distanciamento? Parece que não, já que os católicos, que constituíam 90% da população, estão perdendo fiéis a cada ano. Até ontem, para os evangélicos. A partir de agora, é difícil de profetizar.
As primeiras sondagens apontam que esses rapazes se inclinam mais em direção a uma “religiosidade sem Igreja”; a uma “secularização latente” que se afasta cada vez mais das igrejas tradicionais, tanto a católica como a evangélica. Continuam acreditando em Deus, como seus pais, mas rejeitam com mais facilidade as instituições religiosas oficiais.
Esses jovens são pós-industriais, pós-guerra fria; filhos dos movimentos ambientalistas, da cultura líquida e do processo imparável de secularização. São os que forjarão a identidade do Brasil no futuro imediato. Ou melhor, já estão forjando, embora, para muitos, isso ainda passe despercebido. E começam a ser maioria.
El País