sábado, 15 de junho de 2013

DIVERSIDADE


´EXCLUÍDOS´

Série é considerada referência

Ao mostrar como vivem quilombolas, indígenas e ciganos do Nordeste, matéria dá visibilidade a esses povos

Fortaleza A equipe da Editoria de Reportagem Especial do Diário do Nordeste viajou 13.574Km, em três diferentes roteiros, pelos Estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Ceará, com o objetivo de mostrar como vivem, o que pensam e quais são os sonhos de três grupos étnicos brasileiros - quilombolas, indígenas e ciganos - que ainda precisam brigar para fazer valer seus direitos de cidadãos brasileiros, embora pertençam a essa pátria como os outros povos que ajudaram a construí-la.

Nossas equipes viajaram por diversas cidades do interior do Nordeste para mostrar quem são e como vivem os ciganos, como os do município de Carneiros, em Alagoas, que não contam sequer com saneamento básico Foto: Cid Barbosa

Partimos da abordagem clássica dos livros didáticos - que, por mais de cinco séculos, trataram como harmoniosa a relação entre os três principais elementos formadores do povo brasileiro: o índio, o negro e o europeu - para mostrar que a nossa história não foi contada de um ponto de vista plural. Hoje, escolas indígenas e quilombolas contam outra parte da história, que ficou obscurecida e que a maioria da população ainda não tem acesso.

Na nossa história oficial, chegou a prevalecer um decreto que declarava a não existência de índios nessas terras e, mesmo com o marco da Constituição Cidadã de 1988, os conflitos atuais deixam clara a necessidade da luta pela autoafirmação desses povos. O indígena, em geral, não é aceito como tal se não estiver vestido a caráter ou se estiver usando um telefone celular. Mas é na sua reprodução cultural que quer ser reconhecido e não num estereótipo construído no imaginário da população.

Nós mostramos, também, que, das 80 mil famílias quilombolas do Cadastro Único federal, 74,73% ainda viviam em situação de extrema pobreza em janeiro deste ano, o que explicita a dificuldade de acesso às políticas públicas básicas.

No caso dos ciganos, última etnia retratada por essa série especial, destacamos que a imagem de festeiros é a única que corresponde à realidade, que, infelizmente, não é tão bela quanto a alegria de viver desse povo, que experimenta a miséria em muitas cidades nordestinas; e, ainda hoje, é mal visto por grande parcela da população e sofre o mesmo tipo de perseguição que os expulsou da Europa.

Os cadernos especiais focaram a três etnias - quilombolas, indígenas e ciganos - que resistem às tentativas de "diluição" ao reafirmarem as suas culturas

Fonte de consulta
"Considero o material sobre os ´Excluídos´, publicado pelo Diário do Nordeste, de ótima qualidade. Confesso a vocês que guardei os três cadernos, o relativo aos quilombolas, aos indígenas e aos ciganos. Esse último, posso garantir que é de grande valia para os pesquisadores e estudiosos de uma forma geral. Sem dúvida, vai se transformar numa importante fonte de consulta. Em particular, destaco a entrevista com o professor Ático Vilas-Boas, que serviu para enriquecer ainda mais o trabalho. Ele é uma fonte respeitável sobre o assunto. É possível encontrar diversas obras sobre os índios e os quilombolas. Entretanto, pouca coisa se sabe sobre os ciganos. E essa reportagem especial serviu para elucidar muitas coisas sobre o universo deles", afirma o professor de Antropologia Jurídica da Universidade de Fortaleza (Unifor) Rosendo Amorim.

Visibilidade
Já o antropólogo e historiador João Paulo Pinto Có, da Coordenadoria de Ação Cultural, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult/CE), destaca que a série "ganha importância, na medida em que contribui para a ´visibilidade´ de povos esquecidos, senão excluídos e estigmatizados pela sociedade. Através de preservação cultural e da oralidade, esses povos resistiram a séculos de tentativas de ´diluição´. A reportagem, em si, desvenda os valores, os segredos e as tradições de povos outrora discriminados e hoje ´excluídos´ de alguns benefícios sociais".

Segundo suas informações, a Secult/CE "está a desenvolver projetos que possam alcançar esses povos ´diferentes´, porém cidadãos brasileiros. Aliás, a Constituição de 1988 garante direitos plenos a esses Povos e a República Federativa do Brasil é signatária da Convenção 169 da Organização do Trabalho (OIT) que garante, entre outros direitos, de assumir o controle de suas próprias instituições e formas de vida, de seu desenvolvimento econômico e de manter e fortalecer suas identidades, línguas e religiões no âmbito dos Estados nos quais vivem; observando que, em diversas partes do mundo, esses povos não têm condições de gozar de seus direitos humanos fundamentais na mesma medida que o resto da população dos Estados nos quais vivem e que, em muitos casos, tem-se observado um processo de erosão de suas leis, valores, costumes e perspectivas".

Ele diz que a Secult faz visitas técnicas sistemáticas para auscultar e responder as demandas desses cidadãos brasileiros "diferentes" e, conjuntamente, elaborar Projetos e que suas ações têm beneficiado diretamente as comunidades tradicionais. Destaca, por exemplo, que o Ceará é um dos primeiros Estados a preservar e proteger o seu patrimônio imaterial, por meio da Lei Nº 13.351/2003, que garante o registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular enquanto patrimônio vivo. E acrescenta que a Lei dos Tesouros Vivos (Nº 13.842/2006) foi revisada e ampliada, ao incluir a manutenção dos grupos e coletividades.

Em relação a ações concretas , falou sobre o Projeto Ponto de Cultura, em parceria com o Ministério da Cultura, que contempla comunidades tradicionais, sendo quatro quilombolas, seis indígenas e oito assentamentos e comunidades tradicionais.

MARISTELA CRISPIMEDITORA DE REPORTAGEM 
Diário do Nordeste

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