segunda-feira, 12 de agosto de 2013

ONDE ESTÁ AMARILDO?

Caso Amarildo

Ato na Rocinha cobra explicações


Elizabeth Gomes, esposa do pedreiro desaparecido, negou envolvimento com o tráfico na comunidadeRio de Janeiro. Familiares de Amarildo de Souza, 43, e moradores da favela da Rocinha, na zona sul do Rio, fizeram um ato ontem na parte baixa da favela para cobrar explicações pelo desaparecimento do pedreiro há quase um mês.


Ontem, cerca de 50 pessoas, entre moradores e pessoas solidárias à causa, foram às ruas questionar: onde está Amarildo? FOTO: FOLHAPRESS

Convocado pela Anistia Internacional simbolicamente para o Dia dos Pais, o ato reuniu cerca de 50 pessoas, entre elas a mulher e os seis filhos do pedreiro. Uma faixa que questionava "quem matou o Amarildo?" foi estendida no viaduto que dá acesso à favela.

O pedreiro desapareceu no último dia 14 após ser levado por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha para averiguação e nunca mais apareceu. Investigações recentes da polícia sugerem que o pedreiro poderia ter sido morto por traficantes de drogas da favela.

As imagens das câmeras de segurança da UPP, assim como os dados do GPS da viatura que conduziu Amarildo não foram disponibilizados. A polícia afirma que os equipamentos não estavam funcionando na ocasião. A polícia disse ainda que a esposa de Amarildo tinha ligação com o tráfico. Vinte oito dias depois do sumiço do pedreiro, o caso não foi solucionado.

Versões
No ato, Elizabeth Gomes da Silva, mulher do pedreiro, negou relação com o tráfico de drogas da comunidade e afirmou que sua casa nunca foi usada por traficantes. A casa da família fica em frente a uma boca de fumo, ainda que a favela esteja pacificada. Segundo Elizabeth, há uma tentativa da polícia de mudar o foco da questão. "Isso é tudo mentira. Para eles falarem isso, tem que ter prova", declarou, ao comentar o relatório apresentado pelo ex-delegado adjunto da 15ª Delegacia Policial (DP) da Gávea, Ruchester Marreiros. Nas suas investigações, o delegado indicava o envolvimento do pedreiro e de sua mulher com o tráfico na comunidade. O relatório foi desconsiderado pelo delegado titular da 15ª DP, Orlando Zaccone. "Já que meu marido está morto, só me resta pedir por justiça", disse ela.

Elizabeth destacou ainda que esta foi a primeira vez em que os seis filhos passaram o Dia dos Pais sem Amarildo. "Está sendo triste para mim, para meus filhos, a família toda".

O presidente da Anistia Internacional, Átila Roque, afirmou que o mais importante nesse momento é cobrar explicações do poder público diante do fato de o pedreiro ter sido morto "pela polícia ou sob responsabilidade dela". "É preciso que seja dada uma resposta à sociedade para que não paire nenhuma dúvida sobre as circunstâncias da morte do Amarildo".

E acrescentou que não é possível mais "que amarildos se repitam e que o Estado brasileiro se mantenha quase que indiferente em relação a isso".

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, afirmou que é "inaceitável a tentativa de criminalizar a família de Amarildo". De acordo com Freixo, cerca de 5,5 mil pessoas desaparecem no Rio por ano, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A maioria fica sem resposta.

Para o primo de Amarildo, Willians Roberts, não há dúvida de que ele tenha sido morto pela polícia. "Ele foi morto por esse grupo militar, mesmo", disse. Willians espera que a Justiça afaste os maus policiais da comunidade, embora reconheça que a UPP dá segurança aos moradores que, "infelizmente", ainda têm que conviver com o tráfico de drogas.
Diário do Nordeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário