Cidades carentes seguem sem creche
Maioria dos cem municípios que mais dependem do Bolsa Família tem carência de escolas para crianças
Lançada em maio do ano passado, a Agenda de Atenção Básica à Primeira Infância, o Brasil Carinhoso, prevê o aumento do valor repassado às famílias com crianças de até 6 anos de idade, cuidados adicionais de saúde e aumento de vagas em creches.
Apenas sete municípios poderiam matricular mais da metade das crianças e em um quarto não há nenhuma vaga.
Em Alcântara, no Maranhão, na pequena casa de paredes alaranjadas, Maria Tecla Rodrigues, de 44 anos, cuida do neto Davi, de 11 meses, enquanto a filha Raissa, de 19 anos, estuda. Na casa ao lado, Ana Cláudia Diniz, de 39 anos, também fica com o neto Enzo Lucas, de 1 ano e meio, para a filha Naiele trabalhar. Na cidade onde mais de 80% dos moradores vivem do Bolsa Família, e, apesar de 10% da população ter até 4 anos, não há creche pública.
Jovelina Pereira, de 42 anos, mora em uma das poucas casas ainda de barro em Alcântara. Vive ali com cinco filhos - uma escadinha, de 1 ano e 10 meses aos 8 anos - e o marido, que está desempregado. A todos resta apenas a única renda fixa do Bolsa Família, de R$ 110.
"De vez em quando a gente arruma alguma coisa na cidade, vai vender uma tapioca, mas é difícil, porque tenho de levar o Davi e são duas horas de caminhada. No sol é complicado", afirma. "A escola aqui só pega a partir dos 4 anos", reclama Jovelina.
Edilene Mendes, de 24 anos, trabalhava antes de casar. Hoje, com três filhos, tem de ficar em casa. Enzo, de 1, e Enrique, de 2, ficam com ela. A filha Eva, de 4 anos, é a única que já vai para a escola.
Não há alternativa nem chance de Edilene voltar a trabalhar. "Se eles estivessem na creche, eu estaria trabalhando. Seria muito mais fácil do que tentar viver só com o Bolsa Família", afirma. Seu marido chegou a trabalhar por um mês nas obras do Centro de Lançamento de Alcântara - a base de lançamento de foguetes da Aeronáutica -, mas foi demitido. Na cidade, emprego é escasso.
Equívoco
De acordo com os dados do Ministério da Educação, Alcântara teria uma creche pública e outra estaria em construção. O prefeito da cidade, Domingos Araken (PT), diz que hoje não existe nenhuma. A primeira está para ser construída e deverá ficar pronta em 2014. "Já temos o terreno. Deverá atender 240 crianças", diz.
A única creche é comunitária, mas cobra R$ 100 por mês, fora da realidade de muitas famílias do município.
A falta de creches abre brechas na educação das crianças mais pobres e ainda dificulta a vida das famílias. Ana Cláudia trabalhava, mas deixou o emprego quando a filha encontrou um emprego que pagava mais para poder ficar com o neto Enzo Lucas. Agora, a filha Naiele deve ir trabalhar em São Luís. "Ela tem algo melhor em vista lá, em uma casa de família, mas não vai poder levar o Enzo por falta de creche. Ele vai ficar comigo, ela volta no fim de semana." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
G1
Wscom
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