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Rio, 77% dos prefeitos candidatos à reeleição enriqueceram
Recordista durante o mandato foi o prefeito de Sumidouro, que aumentou o patrimônio em 2.500%
RIO - Dos 54
prefeitos candidatos à reeleição no Estado do Rio, 42 ficaram mais ricos
durante o último mandato. O aumento do poder aquisitivo dos políticos fica mais
claro quando a totalidade do patrimônio é posta em cima da mesa. Segundo
levantamento do GLOBO com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
de 2008 a 2012, o montante de bens dos prefeitos passou de R$ 23,2 milhões para
R$ 37,4 milhões, um avanço de 60%.
O recordista de
evolução patrimonial, em números percentuais, foi Juarez Corguinha (PMDB),
prefeito de Sumidouro, na Região Serrana. Em 2008, ele declarou R$ 12.855,35.
Quatro anos depois, seu patrimônio chegou a R$ 330.889,08, uma evolução de
2.500%. Entre as duas declarações, somente duas novidades: R$ 200 mil em
espécie e R$ 96.879,18 em uma conta no Banco do Brasil. Levando em conta que,
de acordo com a assessoria da prefeitura, o salário do prefeito é de R$ 12 mil,
ele precisaria ter economizado metade de seu rendimento todos os meses para
acumular seu patrimônio atual. Segundo Juarez, tudo não passou de um mal entendido.
— Não tenho
tanto dinheiro assim. Com certeza, foi o contador que fez confusão — argumentou
o prefeito, que, por conta da reportagem, enviou um documento ao TSE pedindo a
retificação de seu patrimônio. Segundo Juarez, seu patrimônio atual é de R$ 148
mil. — Moro na casa do meu sogro, por isso não pago aluguel, conta de luz e de
água. Uso o carro da prefeitura e não gasto com gasolina. Além disso, antes de
ser prefeito, era funcionário do INSS e ganhava só R$ 2 mil por mês. Não tinha
nem dinheiro para ir de Sumidouro a Friburgo. Minha vida é simples, na roça.
Quando tenho que ir pro Rio de Janeiro, sou eu mesmo que vou dirigindo. E nem
vou à churrascaria - garante.
O segundo
colocado no ranking teve menos tempo à frente da prefeitura, mas conseguiu
valorizar seu patrimônio em 13 vezes. Amaro Fernandes (PRB) foi eleito, em
Carapebus, no Norte Fluminense, em fevereiro de 2010, após o ex-prefeito
Eduardo Cordeiro (PT) ter suas contas rejeitadas pelo Tribunal Regional
Eleitoral (TRE) e sua candidatura cassada. Para as eleições de 2008, quando se
candidatou à prefeitura e perdeu, sua declaração somava R$ 61,4 mil. Este ano,
Amaro declarou terrenos em Macaé e Carapebus no valor de R$ 630 mil e o total
de seu patrimônio chega a R$ 817 mil. O motivo desse avanço?
— Com certeza, é
um erro do TSE. Já tenho essas terras desde 2005, antes de ser prefeito. Meu
salário é de R$ 9 mil, quase o mesmo de antes da minha vida política, quando
era comerciante. Não mudou nada na minha vida — alega Amaro. Ao contrário do
que foi informado, o prefeito de Natividade candidato à reeleição, Taninho
(PSD, teve uma evolução patrimonial de 151% e não de 454%. De acordo com dados
do TSE, seu patrimônio evoluiu de R$ 118.964,32 para R$ 299.481,42.
Cientista
alerta para políticos profissionais
Geralmente
associada a práticas ilícitas, a ascensão econômica dos políticos pode ser
explicada por uma série de razões, que variam de acordo com o município e o
político. Para a cientista política e professora do Instituto de Estudos
Sociais e Políticos da (Iesp-Uerj, Argelina Cheibub, o salário de prefeito,
principalmente em cidades pequenas e sem pujança econômica, pode mudar a vida
de um prefeito eleito pela primeira vez.
— Nem sempre o
avanço patrimonial é relacionado com casos de corrupção e desvio de verbas
públicas. Isso até pode ocorrer, mas o que podemos perceber é que a maioria dos
prefeitos do estado, principalmente o de cidades pequenas, não vem de classes
altas e acabam encarando a política como profissão, por conta dos bons salários
— explica a professora, que considera importante um debate sobre o salário dos
políticos. — Por conta da proximidade entre o prefeito e a câmara, muitos
políticos de cidades menores ganham quase o mesmo que políticos de grandes
metrópoles, que tem funções bem mais complexas.
Há ainda dois
candidatos, Andinho (PMDB), de Arraial do Cabo, e Arlei Rosa (PMDB), de
Teresópolis, que não declararam bens em 2008 e, agora, possuem R$ 181.593,37 e
R$ 541.631,85, respectivamente. Enquanto Andinho permaneceu no mandato nos últimos
quatro anos, Arlei Rosa era presidente da Câmara de Vereadores da cidade e só
assumiu a prefeitura em agosto de 2011, após o afastamento do então prefeito
Jorge Mário (sem partido) por suspeita de desviar as verbas de recuperação de
Teresópolis, após as chuvas de janeiro de 2011. O único candidato à reeleição
que não declarou bens em nenhuma das duas eleições foi Valdeir de Jesus (PSB),
de Iguaba Grande.
Valor de
mercado
Contudo, nem
todos os candidatos à reeleição tiveram vida financeira fácil no último
mandato. Ao todo, 11 prefeitos declararam menos este ano do que em 2008. O
político que mais perdeu, em números totais, foi Evandro Capixaba (PSD), de
Mangaratiba: R$ 470 mil, sendo que o político só assumiu a prefeitura em março
de 2011, após a realização de novas eleições por conta da cassação do
ex-prefeito Aarão de Moura Brito Neto (PMDB) por abuso de poder político.
Na comparação
entre as declarações, duas mudanças saltam aos olhos: um imóvel rural de R$ 200
mil em Itacuruçá, fora da lista deste ano, e uma casa avaliada em R$ 71 mil em
Mangaratiba, que, em 2008, foi declarada no valor de R$ 200 mil. Procurada para
esclarecer o que ocorreu, a assessoria do prefeito alegou que o imóvel de
Itacuruçá foi doado para o filho do candidato. Já a mudança de valores da casa
foi justificada pelos critérios utilizados pelo político para declarar seus
bens: em 2008, ele “optou por arbitrar o valor de mercado de seus bens” e, em
2012, o valor passou a reproduzir sua declaração de Imposto de Renda.
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