terça-feira, 28 de outubro de 2014

ELEIÇÕES 2014

País dividido: solidariedade aos vencidos

28/10/2014 15:00
Por Rodolfo Lima, do Rio de Janeiro

Com muita ironia, colunista se "solidariza" com os derrotados na eleição presidencial
Com muita ironia, colunista se “solidariza” com os derrotados na eleição presidencial
Quando Dilma foi eleita em 2010, usei esse mesmo título para um artigo que enviei para o DR, então como colunista regular do site.
Mudaram as situações, mudou-se o contexto, mas continuo com a mesma posição de então. Que me desculpem o tom irônico, naquele momento como agora, mas o caso é mesmo de solidariedade…e de ironia.
Os vencidos talvez merecessem melhor sorte, ou seja, um resultado compatível com o esforço que fizeram para não perder as eleições. Foram quase perfeitos na tentativa de exterminar as conquistas sociais e reimplantar o neoliberalismo, utilizando delações premiadas (sabe-se lá exatamente por quem), com “vazamentos” tão cirúrgicos quanto incomprovados, culminando, no final de tudo, com a malfadada edição da não menos malfadada “Veja”.
Evidentemente, a caso da Petrobras é sério, deve ser investigado, e os culpados devem ser punidos, estejam onde estiverem. Mas não dá para engolir esse golpe midiático covarde, que passa por uma manchete “marron” que faz afirmação que a revista, cinicamente, diz que o delator não comprovou e, mais, que não lhe foi pedido que comprovasse…
Quando os tucanos falam em campanha sórdida, que tipo de adjetivo dariam aos seus opositores se utilizassem esse mesmo procedimento covarde e indigno da ética do jornalismo? É nesse tipo de liberdade de imprensa que eles acreditam?
Os vencidos têm a minha solidariedade, pois os especuladores e milhardários que os representam na bolsa de valores foram muito eficazes na utilização criminosa das oscilações do mercado, inclusive tentando desmoralizar a maior das nossas empresas.
Assim, os vencidos mereciam, por força de seu excepcional esforço, ter como prêmio pela eleição de Aécio a privatização da Petrobras, que, digam o que disserem, sempre estará na ordem do dia da sanha dos entreguistas de plantão.
Estou solidário com os vencidos porque eles se esmeraram em defender seus interesses de classe e o fizeram com a tal argumentação que só os “coxinhas” sabem desenvolver, sempre fundada em doses bem equilibradas por incrível hipocrisia, por falso moralismo e indignação direcionada, por muito preconceito, baixíssimo nível (para quem se diz elite bem informada) e extremada visão egocêntrica. Mereciam ter recuperado os privilégios que defendem.
Estou imensamente solidário com os vencidos porque, contando com uma mídia absolutamente imparcial e descomprometida, e nem um pouco manipuladora, com jornalistas de primeira ordem, bem disciplinados e seguidores daquilo que os seus patrões determinam, certamente mereciam melhor sorte.
Minha solidariedade vai além, estendendo-se aos aliados dos vencidos, não apenas os de sempre – DEM, PPS e outros do gênero -, que não merecem a desimportância cada vez maior que o processo político lhes vem presenteando, mas também os novos amigos do neoliberalismo – a turma da Marina e da rede em que cabem todos os peixes -, que não só não conseguiram implantar a tal “nova política” como também mergulharam de cabeça nos mais velhos conceitos políticos, defendidos a ferro e fogo pelas elites do país.
Sinto-me inteiramente solidário com os ricos, sofisticados e informados cidadãos de São Paulo – aqueles que deram um milhão de votos ao Tiririca – , que, apesar de todos os esforços, não conseguiram reduzir a força dos nordestinos que, no país, teimam em manter defendidos os seus interesses sociais e a sua dignidade de seres humanos.
Dilma disse que o país não está dividido e lamento divergir. Se olharmos o mapa da eleição, perceberemos com clareza: os economicamente mais aquinhoados votaram em Aécio, os que não aceitam voltar ao campo da exclusão votaram em Dilma. A mídia fala também em um “país dividido”, mas tentam apenas passar a idéia de um “Fla-Flu” político, como se não houvesse no Brasil terríveis e perversos desequilíbrios sociais, que as eleições traduziram.
Esquecendo a ironia, o recado final dessa coluna é no sentido de toda a atenção que os verdadeiros democratas terão que dedicar, a partir de agora, aos pequenos e grandes golpes que serão tentados diariamente contra o governo legitimamente eleito.
Os bilionários donos da mídia desse país (com seus fieis jornalistas), os especuladores e banqueiros ávidos por ganhos cada vez maiores, os privilegiados de sempre que não toleram “essa gente diferente” nos aeroportos, todos eles – sob a égide do neoliberalismo – já começam, 24 horas depois da eleição, a usar todas as pressões possíveis para fazer com que não prevaleça, no país, a vontade dos eleitores. Não aceitaram, coitados, o resultado das urnas…
Minha solidariedade ao seu grande espírito democrático…
Rodolfo Lima, advogado e professor de Língua Portuguesa e Literatura com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil e colunista do Direto da Redação no período de setembro de 2010 a janeiro de 2014.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins
Fonte: Correio do Brasil

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